sexta-feira, 19 de novembro de 2010

XXV – Por Acaso

Pedro não estava mais em casa quando acordei pela manhã. Levantei apressada quando me dei conta da hora. Eu ainda teria até a sexta feira da semana seguinte para trancar a matéria de Sociologia, mas não queria correr nenhum risco.


Chegando ao carro, percebi que havia algo preso ao limpador de pára-brisa. Peguei o que parecia ser um cartão de visitas de Nuno. Ali estavam impressos seus telefones e endereço. E no verso em branco, foi escrito a esferográfica: “Apenas no caso de...”. Achei por bem, guardar.


Yuri estava plantado na porta da secretaria. Eu não queria me dar toda esta importância, mas ele mostrou estar mesmo me esperando, quando quase suplicou:
– Por favor, Léo... Não leve isso adiante...

Que diabos ele estava fazendo? O que as pessoas ali em volta iriam pensar?


– Achei que já tínhamos conversado sobre isso! – Eu disse entre dentes. Mais por discrição do que por raiva.
– Não! Foi um monólogo e eu nunca concordei!


– Eu não esperava que você concordasse.
– Eu prefiro pedir demissão! – Ele disse convicto, sustentando seu olhar no meu.


Porque ele tinha que botar as coisas dessa maneira? Porque ele tinha que me encarar assim? Como era possível manter uma linha de raciocínio com um rosto tão lindo preso a uma expressão abatida por minha causa?
– Não faça isso, Yuri.


– Isso o quê? – Ele parecia confuso.
– Sei o que está fazendo, isso é chantagem emocional.


– Ah, Léo, por favor, eu nem tenho a sua idade!
– Você está me chamando de criança?! – Perguntei irritada.


– Não, apesar de você estar agindo como uma, e daquelas bem mimadas!

Eu revirei os olhos, e minha vontade era mesmo bater nele! É eu sou mimada, e daí? A quem isso afeta? Isso era problema meu afinal, não era?


Ele mudou o tom:
– Escuta... Olha... Desculpe, tá legal? Você tem até a outra sexta para fazer isso, certo?
– Que diferença isso faz?


– Me dê só este fim de semana de prazo... Se eu não conseguir convencer você a não trancar a matéria, pode fazer na segunda feira mesmo, se desejar, mas... Gostaria que me desse uma chance de te convencer...
– Porque tem tanta certeza que pode?


– Vai aceitar minha proposta ou não?

Aquele impasse estava começando a me angustiar. As pessoas ao redor olhavam, tentando absorver o máximo que podiam daquele bate boca, o que só diminuía as chances dele.


Respirei fundo. Eu ainda tinha uma semana. Duvidava muito que ele conseguisse me convencer, e gostaria de me livrar daquela situação o mais rápido possível.
– Está certo, professor! Tudo bem... Eu não consigo imaginar o que poderá me fazer mudar de idéia, mas vou considerar sua sugestão, por tudo que tem feito por mim.
– Obrigado, Léo.


– É melhor você esperar para me agradecer... – Respondi com mau humor.
– Tudo bem, como você quiser... O que vai fazer agora?


Eu tinha alguma aula... Quer dizer, eu devia ter, não sei, precisaria ligar pro Tatá.
– Nada! – Qualquer convite que viesse dele me parecia uma melhor opção. Meu Deus, o que estou fazendo?!
– Vou buscar Ariel na escola. Quer ir comigo?


Que covardia! Ele deveria saber que era praticamente impossível recusar um convite para estar com aquela mini pessoinha de novo.
– Ah, Ariel! Como ela está?


Yuri sinalizou e nós caminhamos para fora dali, ainda conversando.
– Ela está ótima e... Perguntou por você...
Eu não sabia se ela havia mesmo perguntado, ou se ele estava dizendo aquilo apenas pra me amolecer. Se fosse, conseguiu.
– Jura? Porque ela se lembraria de mim?


– Porque ela não lembraria?
– Se você soubesse como é irritante você sempre responder “porque não?” pra mim, não continuaria com isso, Yuri, eu juro!


– Eu realmente não entendo como você pode se subestimar tanto, Léo. Mas ok, vou tentar me controlar.
Eu não me subestimava. Crianças não costumavam gostar de mim, é só! A filha dele não devia ser normal. Não consegui dizer nada em minha defesa, tudo que me vinha à cabeça parecia arrogante demais. De qualquer forma, estava satisfeita por conseguir agir com alguma coerência pela primeira vez ao seu lado.


Chegamos em frente ao carro dele no estacionamento e eu vacilei antes de entrar. Yuri percebeu.
– Qual é o problema?
– Porque isso não me parece correto? – Rebati.


– Isso o quê? Entrar no carro do seu professor de Sociologia? – Droga! Era tão difícil assim pra ele responder minhas perguntas, ou ele só fazia aquilo para me desconcentrar?
– Também! – Respondi com uma ponta de exaltação.


Yuri ficou esperando que eu completasse. Mas ao invés disso, abri a porta e sentei no banco do carona. Eu tinha feito uma acordo, não tinha?


Ele acompanhou meu gesto e olhou pra mim.
– Quer me dizer ou me perguntar alguma coisa?
Eu tinha uma infinidade de perguntas. A começar por onde deveria estar a esposa dele. Mas, ao mesmo tempo não sabia se ia gostar do que ouviria, por isso não consegui encará-lo quando respondi:
– Não.


Yuri me deixou na entrada da escola e foi estacionar. Eu cheguei ao portão no momento em que a pequena turma de Ariel saía enfileirada. Deve ser até pecado falar algo assim, mas ela era sem sombra de dúvida a criança mais linda entre todas.


Assim que me avistou, a menina saiu da formação e correu pela escada, balançando as marias-chiquinhas na minha direção e despertando a atenção de um dos inspetores que gritou:
– Ariel! Pare aí agora!


A pequena parou intimidada, mas tentou se justificar:
– É a tia Léo! É a tia Léo!
– Não assuste mais o tio André assim, está bem? – O inspetor pediu com gentileza.


Ele então virou-se para mim:
– Você é tia da Ariel?
Eu demorei alguns segundos para responder:
– Sou... Aluna do pai dela...


– Desculpe Dona Léo, espero que compreenda... Não podemos deixar nenhum aluno sair com alguém não autorizado... Por mais que ela diga conhecer-lhe.
– Ah, não! Ele foi só estacionar o carro e logo estará aqui, não vou levá-la sozinha.


E no exato momento em que terminei de falar Yuri apareceu.
– Baixinha! – Cumprimentou sua filha, pegando-a com muita alegria no colo. – O que fez de interessante hoje?
– Nada, papai! Dia chato.

Engraçado como ela não perdia humor. Ela sorria animada para seu pai.


Uma moça ruiva, simpática e de aparência muito simples se aproximou.
– Olá, pai... Gostaria que agendasse uma reunião na secretaria. Precisamos conversar sobre Ariel. Seria muito bom se a mãe dela pudesse estar presente também.


Meu professor colocou a filha no chão, para dedicar atenção a garota. Ariel correu pros meus braços, cheia de alegria. Eu a peguei no colo, enquanto Yuri respondia:
– Ah... Claro, Ângela! – Ele disse, constrangido. – Eu vou falar com a Sônia, e ligo para marcar...


Eu estava intrigada novamente. Porque falar da esposa o deixava tão desconsertado?
– É alguma coisa grave, ou urgente? – Yuri perguntou, agora preocupado.
– Não, pai... Nada grave... Mas a psicóloga gostaria de conversar com vocês. E eu estarei junto.


– Papai, a gente vai na “pacinha”? – Ariel perguntou, interrompendo aquela conversa e me dando vontade de apertá-la.
Ângela voltou sua atenção para as outras crianças que ainda esperavam por seus pais e Yuri olhou para mim.


– Não sei, acho que temos que levar a Léo em casa...
– Ah, eu... Não tenho nada mesmo pra fazer... – Respondi sem encarar nenhum dos dois. A bem da verdade eu nem sabia.


– Certo... Pracinha. – Yuri decidiu. – Mas não vamos poder demorar por causa do almoço, ok, baixinha?
– “Óqueiii”, papai! – Respondeu o pingo de gente.


Enquanto Ariel se esbaldava no parquinho, eu experimentava o silêncio ao lado do meu professor. Ele ainda não parecia recuperado do diálogo com a tal da Ângela, que eu acreditei ser a recreadora de sua filha na escolinha.


Tentei quebrar aquele gelo:
– Para quem começou a falar tarde, ela até que fala bem, não é?
– Ah! – Ela pareceu despertar de algum sonho, ou pesadelo. – Acho que ela apenas... Não queria falar... Ou não falava na nossa frente, por que... Quando começou, não parou mais... – Sorriu.


– Mas, porque ela fez isso? Porque ela se calou, e escondeu de vocês que sabia falar?
Eu não via sentido naquilo. Claro que não, afinal sempre fui de falar. Às vezes mais do que devia. Senti que deixei Yuri novamente em saia justa.
– Eu... Não sei ao certo... Sugeri levá-la a um fono, ou talvez um psicólogo, mas Sônia achou precipitado, e bem... Ariel não estava tão fora da idade assim... Pelo menos pelo que me informei...


O seu constrangimento, que beirava a gagueira ao responder, causou-me arrependimento. Eu não devia ter questionado.
– Desculpa, Yuri, não quis ser enxerida... Foi uma curiosidade boba... Não precisa responder, é claro!
– Não se desculpe, Léo. Acho que eu acabo me metendo muito mais do que isso na sua vida, não é?


Eu dei de ombros:
– Ah, sei lá! Você é meu professor afinal...
– Às vezes é muito complicado manter o diálogo com a Sônia. – Ele desabafou de repente.


Eu aguardei pela continuação do que ele começara a dizer, mas ela não veio. A frase curta não explicava muita coisa, o que ele estava esperando? A curiosidade me mataria antes que eu tivesse coragem de perguntar.


O silêncio estava me incomodando ainda mais porque ele simplesmente não parava de me encarar. Não sei se estava tentando tomar alguma decisão. Mas estava difícil sustentar seu olhar.


Resolvi terminar de vez com aquele impasse:
– Yuri... Eu vou pegar um taxi para o Campus. Não quero atrapalhar o horário de almoço de vocês.
– Ah... Não! Eu preciso voltar pra lá... Eu só vou mesmo deixar Ariel em casa com a babá.


– Tem certeza? Se quiser almoçar com ela não é problema nenhum pra mim...
– Sabe, Léo... Eu não precisava ter vindo, a babá já ia pegá-la... Mas eu gosto... Por que quando eu voltar do trabalho ela já vai estar dormindo. O tempo com ela sempre parece curto demais...


Eu me lembrei do meu pai, sempre tão dedicado e amoroso. Nem podia invejar a sorte de Ariel. Yuri parecia tão frágil e resignado ao confessar o carinho por sua filha, e não ter o tempo que desejava lhe dedicar, que não resisti e me precipitei em abraçá-lo, numa posição de consolo.


Senti a entrega de Yuri ao meu gesto durante poucos segundos, pois uma voz rouca e enfurecida de mulher fez seus músculos se retraírem.
– O que é que está acontecendo aqui?!


Minha reação em soltá-lo foi imediata. O olhar ameaçador da mulher fazia jus ao tom de sua voz. Fui tomada de pânico e vergonha, apesar disso não consegui deixar de reparar na figura a minha frente. Era uma jovem senhora, bonita e muito bem produzida para quem dava apenas um passeio casual pela pracinha do bairro.


– Vovó! – Exclamou Ariel, e confesso que me senti aliviada por aquela não ser a esposa de Yuri.
Não só pela minha humilhação ser um pouco menor, mas porque julguei que ela fosse velha demais para ele.


A carranca sisuda da mulher se amenizou com o chamado da neta. Quem não se derreteria com aquele sorriso? Ainda assim sustentou a expressão inquiridora para Yuri, que estranhamente não parecia nem um pouco constrangido com aquela situação.


– Edna... – Ele disse seu nome em cumprimento, mas não completou.
A mulher então começou a discursar com raiva e deboche:
– Então eu saio para catar meu genro irresponsável que não voltou com a filha da escola, e dou de cara com ele agarrando uma ninfeta no meio da pracinha há poucos metros de sua própria casa! E na frente da menina!


Eu queria me defender, e ao Yuri. Mas dizer o quê a uma pessoa ensandecida da forma como sua sogra estava, por presenciar uma cena que era no mínimo duvidosa? “Não é isso que você está pensando!”? Patético!
– Ela é minha aluna, chama-se Léo, e não estávamos agarrados... – Ele disse calmamente.


Só então, Edna olhou para mim.
– Léo?! Isso não é nome de mulher! O que você é? Alguma espécie de travesti?

Eu me senti quase tão ofendida, como quando David beijou a piriguete, ou quando Penélope virou a mão na minha cara. Travesti?!


O que me fez permanecer calada, foram os olhinhos assustado de Ariel observando aquela cena.
– Edna, eu não admito que você trate qualquer aluno meu desta maneira! – Ele falou agora um pouco exaltado.


– Ariel, vem com a vovó! – Chamou Edna e a menina caminhou para os seus braços. Com a neta em seu colo, não parecia a mesma mulher de poucos minutos atrás. – Vamos para casa, meu bem... Já passou da hora de você almoçar.


Yuri deixou que a sogra levasse sua filha sem protestar. Em compensação seu semblante exibia uma expressão de fracasso.
– Eu te meti em encrenca, não foi? – Perguntei. – Me desculpa, eu nem sabia o que dizer...
– Não se preocupe com a Edna. Mesmo que você não estivesse aqui, haveria um pretexto...


– Mas você não tem medo do que ela possa falar pra sua esposa? Yuri, eu estou me sentindo muito mal, eu... Eu posso falar com ela, dizer que foi um mal entendido, e pedir desculpas, afinal... Fui eu quem te abracei. – Nem eu mesma acreditava que estava fazendo uma proposta daquelas!


Meu professor deu um sorriso de canto, pensativo.
– Duvido muito que Sônia vá se incomodar com isso, mas... Também não tem importância agora...

Eu fiz uma careta. Como não se importaria? Como não sentir uma pontinha de ciúmes que seja, por um homem tão fabuloso como ele?


– Sua esposa é normal?

Eu tenho medo da minha sinceridade, às vezes. E quando ela se juntava a incoerência dos meus atos quando estava com ele, eu era praticamente uma bomba relógio.


Yuri soltou uma gargalhada. Fiquei feliz por fazê-lo rir, ao mesmo tempo sentia-me horrível por todo o resto.

– Desculpe. – Pedi.


– Ah, não Léo... Eu que peço desculpas, não foi deboche, eu juro! Você é tão espontânea!
– Não sei o que posso fazer para consertar todo esse mal-estar, estou nervosa e não consigo falar nada que faça sentido.


– Não tranque a matéria... – Eu não pude acreditar que ele estava se aproveitando da situação.
Em um devaneio rápido cheguei a pensar que tivesse sido tudo armação.
– No que isso muda o que aconteceu aqui?


– Nada! E isso não pode ser desfeito. Mas se você não levar isso adiante, eu já vou me sentir melhor.

Eu achei aquilo “nosense” e de uma covardia sem fim. Naquele momento se ele tivesse me pedido pra cortar o meu lindo cabelo, eu cortaria.
– Sacanagem! – Pensei alto demais.


– Nossa! Eu te fiz falar um palavrão... Na rua! – Yuri fez cara de assustado, só para me importunar.
– Eu não achei engraçado! – Disse fazendo bico.


– Vamos, vou te levar pra casa.
– Tem certeza que não quer ir pra casa tentar resolver as coisas? Eu posso pegar um taxi, Yuri...


– Se eu não for pra UFEB agora, eu vou ter mais um problema pra resolver, então...

Eu suspirei e me dei por vencida.


Voltamos sob um silêncio torturante. Pelo menos para mim. Estava amargando cada pergunta que eu não ousava fazer. Às vezes sentia Yuri me fitando e eu podia jurar que ele tentava me encorajar.


Não esperei ele abrir a porta do carro para mim. Mas ele me alcançou antes d’eu entrar.
– Hey, Léo... O que vai fazer amanhã?
– Amanhã é sábado!


– Eu sei que dia da semana é amanhã. Vou reformular a pergunta... Quer almoçar comigo amanhã?
Que espécie de maluco ele era?
– Não acho que seja uma boa idéia... Com tudo que está acontecendo...


– Eu não sei o que é “tudo que está acontecendo”. Eu vou almoçar com a tia Débora e a Nicole... Pensei que talvez quisesse ir, deixa para outra vez então...

Eu fiquei repartida. Estava morta de saudades de Nicole, mas queria ficar o máximo de tempo com meu irmão antes dele ir embora.
– É... Deixa pra outra... – Respondi lamentosa, mas resumidamente.


Yuri me deu um beijo no rosto junto com um “Fica bem...” e partiu. Eu sentei por alguns segundos na escada da varanda. Não queria levar pra dentro de casa a energia ruim da tensão que eu ainda estava carregando.


Pedro estava em casa quando cheguei. Terminava de preparar algo no fogão, e o cheiro gostoso do seu refogado havia tomado todo o ambiente.
– Pensei que fosse almoçar no Bumper com as meninas.
– Por quê? Só fez comida pra você, é? – Perguntei manhosa.


– Dá pra improvisar... Senta aí! – Falou abrindo um sorriso. Quis acreditar que pela surpresa da minha companhia.
– Depende. Que gororoba é essa que você preparou? – Perguntei retorcendo o nariz de pura troça.


– Frango com brócolis, e não faça essa cara, eu sei que você gosta da minha comida. – Ele me desmascarou enquanto servia. Era verdade. Seus pratos sempre foram quase tão saborosos quanto os de sua mãe.
– Convencido! – Eu disse “quase”.


– Ah, o Tadeu te ligou! Várias vezes... O que houve com o seu celular, Léo?
– Sei lá, eu não ouvi, ou deve ter acabado a bateria. O Tatá é neurótico... – Não quis dar muita importância, previa onde Pedro queria chegar.


– Ele parecia preocupado... E surpreso por eu estar aqui, ficou me sondando... Eu saberia o motivo dessa preocupação toda?
– Pedro... Se você quer saber quem era o cara de ontem, e o que ele fazia aqui, pergunte.


– Não. Não quero.
Eu sabia que era mentira, ele só não estava a fim de admitir.
– Então podemos comer em paz, não é?


Ficamos alguns minutos em silêncio apenas mastigando a comida. Às vezes Pedro olhava pra mim, e eu não sabia se ele queria perguntar alguma coisa, ou estava apenas acreditando que minha expressão lhe dar alguma dica.


– Léo... – Ele me chamou com tanta sutileza que eu quase não ouvi. – Eu posso te deixar sozinha? Você estará segura aqui sem mim?
– Desde quando você é meu cão de guarda? Eu me virei sozinha esses dias, não me virei?

Eu estava fazendo um esforço para me acostumar com sua partida, será que ele não percebia ou realmente eu não havia mudado em nada?


– Eu não sei ao certo... Porque você está andando pra cima e pra baixo com seu professor de Sociologia?
– Ah não, meu Deus! Até você!

Larguei o garfo, porque perdi meu apetite. O clima estava tão bom, porque ele sempre estragava tudo?


– Você sabe que não costumo dar importância às fofocas acadêmicas, nem mesmo quando se referem a mim! Mas desde que você rompeu com o David, tenho realmente ficado preocupado com o que ouço por aí... E acabei de ver ele te deixar aqui na porta...
– Vá em frente, Pedro! O que quer saber? Se eu estou transando com meu professor, pra ele me aprovar? É isso que pensa de mim?


– Que coisa mais baixa de se dizer, Léo! Acha mesmo que não conheço você? – Ele disse com pesar, e eu me vi desarmada.
– Então não sei por que você está preocupado!


– É... Você está certa, desculpe...

Eu não pude acreditar que ele aceitou tão facilmente minhas palavras, eu só pude imaginar que ele não queria passar brigando, o pouco tempo que nos restava.


 O telefone de casa tocou, encerrando de vez aquele assunto.
– Eu atendo. – Disse levantando e Pedro voltou para sua comida, com pouca vontade. – Só pode ser o Tatá.


– Oi, malinha do meu coração! – Falei ao atender.
– Poxa, Léo, você não tem nenhuma consideração, né? – Tadeu replicou ofendido do outro lado. – Eu quase morri aqui sem notícias suas! E o bofe, heim?


– Que espécie de amigo é você, que me deixa sair naquele estado com um total desconhecido da boate?

É, eu sei que Pedro estava ouvindo. Eu fiz de propósito, já que ele não teve coragem de perguntar.


– Nuno não é um total desconhecido! É primo do Victor... Aquele que eu tava conversando no bar! Como pode pensar que eu deixaria uma coisa dessas acontecer? Ele só te levou porque meu amigo me assegurou que era um bom sujeito. Além do mais, eu não tinha muita opção... Você não tinha condições de dirigir, ele foi gentil em levar seu carro, eu não dirijo, né, Léo?


Eu me dei conta de que nem me preocupei em como Nuno devia ter feito para ir embora. Não me despedi, nem falei nada. Sequer um telefonema com um pedido de desculpas. Eu estava sendo tão egoísta! Só me preocupei comigo mesma, em curtir a esmola de felicidade que Pedro me ofereceu, em tentar resolver meus problemas na faculdade...


– Ah, Tatá, eu sei... Estava brincando... Ligarei para agradecer... – Resumi. Eu contaria os detalhes a Tatá, é claro, mas não por telefone.
– Mas me conta, Diva... Como foi?! Tô com urticária já!


– Depois, Tatá, agora não rola...
Para minha sorte, meu amigo entendeu e não insistiu.
– Eu vou querer saber, Loira, não vou esquecer, viu?!


– Tenho certeza que não... Um beijo, best!
– Beijo, Léo... De noite eu passo aí.



Eu retornei para a mesa disposta a tentar retomar o meu almoço. Pedro agiu como se não tivesse ouvido nada. Confesso que ele estava ficando bom nisso. Depois de alguns minutos de silêncio, tomei fôlego e perguntei:
– Você já sabe que dia vai?


– Amanhã à noite. Mas eu ainda volto! – Ele apressou-se em falar para não me assustar. Isso não impediu que meu coração desse um salto, quase me fazendo engasgar. – Meu teste é na segunda. Quero passar o domingo treinando sem preocupação com a viagem. Mas volto na segunda mesmo após o teste...


– E depois?... – Eu perguntei triste e sem vontade realmente de saber.
– Eu acredito que saiba na hora se passei ou não. Se eu for reprovado, volto de forma definitiva pra UFEB, e para cá. – Ele vacilou ao dizer. – Se eu passar, acredito que eles me deem a semana pra resolver minha transferência...


Tentei manter a calma. Só uma semana? Era tudo que eu tinha?
– Tudo bem, podemos almoçar juntos amanhã, e à noite eu te levo no aeroporto. Acredito que papai e Dora também queiram ir...
– Ah... Amanhã... – Ele disse sem graça. – A galera do futebol marcou um churrasco de despedida... Claro que você está convidada, mas...


Eu me levantei e ele se calou com meu gesto. Uma pena aquele frango não poder ser apreciado como merecia.
– Desculpa, Pedro... Mas não vou conseguir. Tudo que eu gostaria era passar o dia com você amanhã, mas isso é demais pra mim.


Meu irmão se levantou e me abraçou.
– Eu sei, Léo... Não pediria isso, sinto muito mesmo! Preferia ficar com você, mas não pude recusar o convite...

Eu compreendia tudo, mas precisei controlar a raiva que a inveja fez brotar dentro de mim.



2 comentários:

  1. Nossa! Quanta coisa em uma só vez: A fofoca na Facul, a linda e fofa Ariel, a sogra igual a grande maioria delas, as chantagens do Yuri, o Pedro lindo enciumado e este maldito churrasco! Mais um motivo para não gostar de churrascos: só vai gente sem noção como o David, Doda e Pepernóstica! huasuashuahsuashauhsauhsuahsuahsuahsuahsh

    AMO!
    bjosmil! *.*

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  2. kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Mita! Haushuahsau! MORRI!
    Olha lá, heim! Eu gosto de churrasco! =$ ashaushauhsuahsua!

    Eu estou postando por capítulos... A tendência agora é ficarem cada vez maiores... =| Não queria dividir o mesmo capítulos em partes... '-'

    Vamos ver, pq esse eu levei dois dias pra postar .-.

    ..: bjks ;..

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