quarta-feira, 3 de novembro de 2010

XVIII – Carteado

Quando voltei, encontrei Dora e Dr. Olívio na mesa de jogo, mas onde deveria estar Pedro, estava Zeca.
– Você tem um novo parceiro essa noite, Léo... – A observação de papai era totalmente óbvia e dispensável.


Sentei-me educadamente a frente de Zeca.
– Pelo menos, agora tenho alguma chance de ganhar... – Fiz um trejeito sutil, afinal, ele não tinha culpa de seu melhor amigo ser um idiota completo.


Esperei que jogo já tivesse lá pelo meio, para matar minha curiosidade.
– Onde estão Pedro e Penélope?

Senti que a pergunta angustiou o pobre do Zeca, que me lançou um olhar aflito.

– Foram dar uma volta, ao que parece. – Respondeu meu pai. – Será que eles estão namorando? Eu faria muito gosto!


Não preciso dizer o quanto esse inocente comentário me irritou e o quanto tive que me controlar para não deixar transparecer.
– Você sabe de alguma coisa, rapaz? – Papai indagou a Zeca.

O garoto gaguejou ao responder:
– N-não sei n-não, Dr. Olívio...


– Olívio, você está constrangendo o menino! – Dora chamou-lhe a atenção e eu dei graças a Deus.

Zeca, que já era quase mudo, calou-se pelo resto da noite.


Era tarde quando o jogo terminou – eu e Zeca ganhamos – e nada de Pedro e Pêpa voltarem. Dei boa noite para todos na sala e subi com minha cabeça a ponto de explodir. Tomei uma aspirina e entrei no banho. Não aliviou em nada.


Zeca me aguardava na porta do meu quarto quando saí do banheiro.
– Posso falar com você um instante?


Era uma pergunta difícil. Claro que eu queria saber o que ele tinha a me dizer, mas estava irritada ao extremo e morrendo de dor de cabeça. Tinha medo das minhas reações. Como eu não respondia, ele se adiantou.
– Pêpa e Pedro não estão namorando...


Eu senti a pressão no meu crânio diminuir, então pude perguntar, já dona de minhas faculdades mentais:
– E você está me dizendo isso por que...
– Porque eu sei que te perturbou. Seu irmão saiu com a minha porque ela estava no mesmo estado que você. Aborrecida. Ela não achou que você viria. Digo isso porque Pedro deu a entender a mesma coisa para mim.


Continuei encarando Zeca, calada.
– Eu não sei qual é a intenção dele com isso... Mas acredite, se Penélope soubesse, não viria.
Eu precisava admitir que ele tinha razão.
– Pois, é Zeca! Você é amigo dele... Dê alguns conselhos...


– Ah! Léo... Vamos lá... Seja honesta. Ele ouviria mais a você do que a mim!

Eu, que já estava impressionada com a quantidade de palavras pronunciadas por Zeca naquele curto espaço de tempo, fiquei perplexa com sua franqueza.
– Não é bem assim... Mas com certeza ele vai me pagar por essa, e espero que sua irmã esteja cobrando muito caro também.


Depois de desejar boa noite a Zeca, me fechei em meu quarto – que permanecia intacto mesmo depois d’eu me mudar –, e fiquei atenta a qualquer ruído que indicasse a chegada dos dois. Mas as horas passaram e nenhum sinal, sem conseguir mais manter meus olhos abertos, acabei adormecendo.


Despertei com barulhos vindos da cozinha que denunciavam que eles haviam chegado. Tentei ver que horas eram, mas o quarto estava escuro, não localizei meu iphone.


Desci na ponta dos pés, repetindo o que tinha feito quando da visita de Nicole a nossa casa. Eu sei que Pedro não gostaria nada disso, mas simplesmente não conseguia ficar indiferente, além do mais, se deseja que ninguém escute a sua conversa, não irá tê-la na cozinha da casa dos seus pais, onde sequer havia porta.


Apesar de terem ficado horas na rua, provavelmente ruminando o mesmo assunto, Pêpa só parecia mais calma pelo efeito do álcool que devia ter consumido. Sua voz estava arrastada.
– Ainda acho que você é um cretino, Pedro. Não pode forçar uma barra.
– Você é minha melhor amiga, e ela é minha irmã... Precisam dar um jeito de se relacionarem bem.


– Não vem com esse papo de irmã pra cima de mim, não, Pedro... Isso não cola nem depois de todas as doses que tomei. Aliás, sozinha, diga-se de passagem...
– Eu estava dirigindo, Pêpa...


Ela se jogou nos ombros dele. Pude ver de onde eu estava.
– Que bonitinho, Peu... Consciente e preocupado... O que fiz pra merecer essa consideração?
– Certo, Pêpa... Eu não devia ter deixado você beber tanto... Venha vou te botar na cama.


– Porque não fica lá comigo? – Ela sugeriu. Eu sei que ela estava um tanto alta, mas tive vontade de invadir a cozinha com um rolo de macarrão, como uma dona de casa enfurecida.
– Porque você não ia se lembrar de nada no dia seguinte...

Ok, agora eu queria bater nele.


– Ué... Melhor assim, não é? Não crio expectativas, nem esperanças... Você pode me culpar?
– Já conversamos tanto sobre isso, Pê...


– Parece que estamos vivendo a mesma situação não é? Apesar d’eu tentar... Também não consigo ficar longe de você.
– Podemos continuar essa conversa amanhã? – Ele pediu, provavelmente imaginando que ela não falaria sobre isso de novo. Não sóbria.


Queria sentir pena de Penélope, mas não consegui. Era horrível demais pensar que Pedro pudesse querê-la.
– Ah, Pedro... Quer saber? Dane-se! Dane-se você! Dane-se a Léo, dane-se... Acho que vocês merecem mesmo viver esse inferno...
– Não vou discutir com você assim, Pê... Deixa eu te ajudar a subir...


– Não preciso da sua ajuda! Vou embora amanhã de manhã! Não se preoc... – Penélope não conseguiu completar, porque tropeçou em seu próprio salto, e só não caiu porque Pedro estava atento e a segurou.


Antes que tudo se tornasse ainda mais constrangedor, eu resolvi me manifestar, surgindo na cozinha e surpreendendo os dois:
– Vocês estão precisando de ajuda?



2 comentários:

  1. Aff... Perpesnóstica não se toca! E a Léo também não! rsrsrsrsrsrsrsrs

    Enquanto eu estiver relendo, acho que não dá pra sentir saudades... .-.
    Amo
    bjosmil! *.*

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  2. Heheh... Pois é, Mita! Pedro está pagando mesmo um preço alto por ter levado as duas loiras pro mesmo lugar...
    Obrigada,bjks!

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