quinta-feira, 14 de outubro de 2010

XII – Máscara

Não tive mais humor para frequentar as aulas da tarde e me internei no shopping. Gastar tempo e dinheiro comprando roupas, jóias e acessórios sempre levantavam meu astral.


Preocupados em não perder matéria, nem Tatá, nem as meninas quiseram me acompanhar. E como eu não gostava de fazer nada sozinha, em pouco tempo estava entediada e voltava para casa.


Abri a porta e a sala estava vazia.
– Pedro, cheguei! Você tá aí?

Não houve resposta.


Larguei as sacolas em um canto e caminhei até o seu quarto. Tentei escutar alguma coisa, mas parecia não haver ninguém. Meti a mão na maçaneta e girei para abrir, mas a porta estava trancada.
– Ué! – Disse alto sem querer. Pedro nunca tinha deixado o seu quarto trancado ao sair.


Então ouvi ruídos, e passos se aproximando. Dei um pulo para trás na mesma hora que meu irmão entreabriu a porta. Ele estava só de cuecas e saiu praticamente se ralando no portal, tentando impedir que eu olhasse lá para dentro.


– Oi. Precisa de alguma coisa? Estou meio... Err... Ocupado.
– Quem está aí? – Perguntei com a pretensão de quem achava que ele tinha a obrigação de me falar.


– Ora, vamos, Léo... Também não sou tão galinha assim... Quem acha que poderia ser?
– Se é a Luli, porque está escondendo ela então?


– Não estou escondendo... Apenas preservando... Ela não está muito vestida no momento...
Eu tive vontade de bater nele. E nela, mas dei de ombros.
– A julgar pelo silêncio... Essa festa deve estar mesmo muito animada...

Se existe uma coisa que homem detesta é ser diminuído no quesito sexo.


Eu não esperei ele retrucar, virei as costas e caminhei para o meu quarto, batendo o pé. Mesmo assim ele não perdeu a oportunidade:
– Ela é discreta... E eu prefiro manter a boca da Luli ocupada com a minha...


Entrei no meu quarto bufando e bati a porta com toda a minha força o que acabou quebrando minha unha e me fazendo soltar um palavrão.
– Vou lavar sua boca com detergente, Léo! É meu dever como seu irmão mais velho te ensinar boas maneiras! – Eu ainda tive que escutar Pedro gritar antes dele retornar para o que havia interrompido.


Levei meu dedo à boca tremendo de raiva e dor. O que deu no Pedro? Ele sempre fez tudo pra mim! Sempre me deu atenção! Que droga estava acontecendo agora, que as porcarias que ele arrumava na rua tinham mais importância que eu?


Eu me joguei na cama e chorei. A primeira lágrima saiu com a mesma dor de sempre, me fazendo lembrar porque eu detestava chorar. Chorar dói e eu criei o hábito de evitar.


Eu só acordei no dia seguinte. Na mesma posição em que havia adormecido. Meus braços estavam dormentes, quando me mexi na cama. Pedro entrou sem bater.
– O que é que aconteceu?

Eu devia estar horrível mesmo. Cara amarrotada, olhos inchados. Que transtorno! Seria necessário um dia inteiro de coiffeur para amenizar o estrago.


Eu levei as mãos ao rosto. Tentando escondê-lo.
– Sai do meu quarto! – Vociferei, torcendo para que Luiza pudesse escutar.
– Ei, calma aí, nervosinha. O que houve?


Com esforço me levantei sem usar as mãos.
– Não é da sua conta! E você não se importa mesmo! Sai!
– Léo... Pára com isso...


Percebi que Pedro pretendia se aproximar e evitei:
– Sai do meu quarto, Pedro! – Ordenei, silabando toda a frase. – Você não está autorizado a entrar aqui sem bater.
– Nossa, Léo, você acordou com a macaca, heim? Tá legal... Dane-se. Eu vim te acordar pra ir pra aula, mas não sei se você vai mesmo... Aliás, para o bem do Campus é melhor você nem sair de casa hoje.


Ele já estava quase na porta quando lembrou de outra coisa.
– Ah! Só para você saber... Não venho dormir em casa hoje.

Eu fiquei com tanta raiva! Queria dizer alguma coisa para impedi-lo, mas como, se eu havia acabado de expulsá-lo do meu quarto? Cheguei a achar que ele tinha planejado cada momento daquela situação.


– Não tô nem aí! – Menti de forma deslavada. Pedro dormir fora de casa era algo que me irritava tanto quanto ele trazer qualquer menina para dormir com ele em nossa casa.
– Ótimo! – Exclamou antes de sair.


Eu realmente não saí. Chamei minha esteticista preferida, Nádilla, para cuidar da minha aparência. Precisava estar ao menos decente à noite. Chamaria David para dormir comigo.
– Querida, quantas vezes já te disse... Não chore! Mas se chorar, não durma! Pelo amor de Deus! Olhe o tamanho destas bolsas!


– Não me assuste mais que o necessário se não quer que apareçam rugas também, Nádilla!
– Deus me livre, rugas! Uma pele de pêssego como a sua... É até sacrilégio!


– Então maga, me salva por favor!
– Ah, meu amor deixa comigo! Seu bofe lindo não pode te ver desse jeito!


Limpeza, hidratação, esfoliação e de quebra uma massagem corporal. Tudo isso aliado ao bom humor da conversa de Nádilla, foi revigorante e tomou toda a minha manhã além de alguma parte da tarde.


Até ela se despedir sem ter terminado sua tarefa por completo.
– Não posso ficar, darling, tenho uma cliente agora que já está marcada há dias... Espere uma hora para tirar o produto. Nem mais, nem menos. Água morna, não esqueça.
– Pode deixar, maga. Entendi! Obrigada!


– Deixe para agradecer depois, me contando o que o gato achou... – Ela piscou e acenou antes de sair.


Ainda estava com o creme na cara e procurava alguma coisa para beliscar na geladeira quando, inesperadamente, Pedro abriu a porta de casa.


– Oh, meu Deus! Eu gritei levando as mãos ao rosto!
– Nossa, Léo... É melhor eu te levar ao médico! Você me parece pior do que quando te deixei pela manhã... – Sim ele estava zombando de mim. Devia haver alguma punição muito dolorosa para aquilo, eu pensaria nisso depois.


Conformada, baixei minhas mãos.
– Você não disse que não voltaria para casa hoje?! – Gritei quase histérica.
– Meu programa babou. – Disse com naturalidade. Não parecia estar nem um pouco frustrado, ou estava começando a encenar muito bem.


– Eu não acredito! Pedro Gregório tomou um balão?! – Foi minha vez de tripudiar. – Não acredito que a Luli teve essa audácia?
– Eu não disse que era com a Luli... Também não disse que foi ela quem desmarcou.


Ele só poderia ter dito aquilo para me deixar curiosa. Ou furiosa. Ou os dois. Eu tinha certeza que alguém tinha lhe dado um bolo. Mas quem? Eu não devia ficar matutando isso, não devia ser da minha conta. Mas eu sempre achava que era. Como tudo relacionado a Pedro.


Fiquei listando mentalmente as meninas do Campus – aquelas que ele pegaria, claro – enquanto aguardava o momento de tirar o creme. A lista era enorme. Eu não achava que Pedro fosse muito seletivo. Fato que ainda tentava encontrar quem pudesse ser a abusadinha que o deixou na mão, enquanto lavava meu rosto.


Parei de conjecturar ao ouvir o telefone tocar. Corri para atender, mas Pedro já o tinha feito do seu quarto. Eu não resisti em escutar, afinal, poderia ser a talzinha...


“Já te pedi desculpas, Pedro...”, disse a voz do outro lado, que não consegui identificar.
– Não é questão de desculpas... Eu não entendo o que mudou...


A conversa continuava, e eu vasculhava a minha memória auditiva em busca daquela voz, mas ela devia estar falando de algum celular, porque o som não era limpo, o que dificultava tudo pra mim.
“Não mudou nada! E é isso que tá me incomodando! Eu não suporto mais... Será que você não consegue entender?”


– Mas eu... Eu estou bem, eu juro!
“É, mas eu não estou... Então me dê um tempinho por favor...”

Meu Deus, porque ele não a chama pelo nome?!


Eu bufei... Só que acho que um pouco alto demais. Tomada de pânico de ser descoberta, corri para colocar o telefone no gancho ao mesmo tempo em que Pedro quase derrubou a porta do meu quarto, ao invadi-lo com uma expressão de puro ódio.


– Não acredito que estava ouvindo minha conversa, Léo!
– Não! Eu peguei no telefone pra atender e vi que você já tinha atendido e desliguei.


– MENTIRA! – Ele urrou e eu não lembrava de já ter visto tanta ira em seu olhar. – Eu tolero muita coisa, Léo... Você sabe, mas... Nunca mais faça isso de novo, nunca, eu estou falando sério!


– Pedro, olha... – Eu me aproximei para abraçá-lo e tentar ser mais convincente em minha mentira, mas ele me repeliu.
– Não encosta em mim! Eu estou furioso! Nunca em toda a sua vida você fez nada que me aborrecesse tanto!


– Mas, Pedro, eu...
Ele estava determinado a não me deixar falar.
– Respeite a minha privacidade! – Entre uma palavra e outra, Pedro arfava. – Isso não é um pedido!


Depois de suas últimas palavras, ele virou e saiu. Eu fiquei paralisada, atônita. Fui tomada por uma tristeza enorme e me segurei para não chorar novamente. Não só porque seria o trabalho de um dia inteiro perdido, mas também porque David chegaria qualquer momento, eu não queria ter que dar explicações.


E de fato, David chegou, pouco tempo depois que Pedro se trancou em seu quarto e colocou uma música barulhenta pra tocar num volume tão alto que dava pra sentir o chão de toda casa tremer.
– Oi, gata! – Ele me cumprimentou com seu sorriso que sempre me pareceu ser desenhado à mão. – Tudo bem?


Em seguida, meu homem-chocolate me abraçou e me beijou. Ele é tão carinhoso ao me segurar! Como se eu fosse de quebrar ou algo assim. O balé sempre tão suave de sua língua em minha boca me fazia esquecer de tudo, pelo menos por aqueles poucos segundos.


– Ah, David! Bem melhor agora... – Respondi enquanto ele alisava meu rosto.

Como alguém daquele tamanho conseguia ser tão delicado?
– Sua pele está tão macia... Mais perfeita do que já é...


– Nádilla esteve aqui, cuidando de mim... Para você...
– Ah, Loira... Não me conte estas coisas... Eu... – Mas antes dele completar, se deu conta do barulho infernal que vinha através das paredes. – O que é isso? Pedro está dando uma festa? Eu entendi que você estaria sozinha...


– Ah, eu acho que ele levou um fora! – Respondi casualmente para não valorizar a história mais do que merecia.
– O Pedro?! – Indagou assustado.

É... Pelo visto, meu irmão devia ser irresistível de alguma maneira, porque de galante ele não tinha nada.


– Você veio aqui para conversar sobre o Pedro?
– Claro que não, gata!


Nós nos arrastamos, aos beijos até o quarto. Ele tirou a camisa, consciente do quanto seu peitoral me deixava atordoada, e me conduziu até a cama roçando a boca em meu pescoço enquanto murmurava alguns elogios.


Mas antes mesmo d’eu me entregar por completo, senti uma angústia e perdi a concentração. Aquele som ensurdecedor no quarto ao lado misturava-se a voz distorcida da garota ao telefone. Fiz um esforço enorme para limpar meus pensamentos, mas tudo que vinha na minha cabeça era olhar repleto de fúria de Pedro para mim.


Eu pensei estar me esforçando enormemente para voltar para o meu quarto e ao que estava rolando ali, mesmo assim David percebeu, e parou o que quer que estivesse fazendo.
– O que foi, loira? Você está... Distante...
– Desculpa, David... Tive um dia ruim.


– Oh, criança! Vem cá vem... – David se virou e me aninhou em seu colo, protetor. – Eu vou cuidar de você essa noite, amor. Não se preocupe.



2 comentários:

  1. Ok... E quem cuida de mim?
    huashuashuashuashuashuashuashuash
    AMO muito!
    bjosmil! *.*

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  2. Eu tb quero, Mitaaaaaaaaa! Huahsauhsuahsuah *-*
    Brigadim, amore!

    ..: Bjks :..

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