segunda-feira, 4 de outubro de 2010

VIII – Ausências


Na quarta pela manhã eu já achava que não sobreviveria. A casa estava um tédio total, e nem a visita de Tatá me animou. Mesmo com todas as suas tiradas afetadas. Meu humor estava beirando níveis perigosos. Liguei para o Pedro.



– Oi, Léééo... – Ele atendeu enfadonho.

Que diabos!
– Porque essa voz assim pra mim?



– Léo, você me ligou pra reclamar da forma como atendo o meu celular?
– Claro que não, cabeça dura! Mas olha como você falou comigo!



– O que é que você quer?
– Porque eu tenho que querer alguma coisa, só porque eu te liguei?



– Porque você sempre quer, Léo...
– Eu só... Estou com saudades de você. Quanto tempo mais vão ficar aí?



– David não te falou? – Senti certa provocação. – Até sábado. Domingo estamos de volta.
– Vocês estão perdendo aula, sabia?



– Léo... O nosso time é universitário. – Ele respondeu com a certeza de ser uma informação óbvia e desnecessária. – A reitoria está ciente, teremos reposição. Você está realmente preocupada com as minhas faltas? Eu acho que não...
– Qual é o problema? Eu sou sua irmã, não sou?



– Quer que eu seja sincero? Você está entediada, não tem mais o que fazer, e me ligou pra ocupar seu tempo... Se quer meu conselho, vista uma roupa e vá pra aula, Léo. Leve a vida um pouco a sério.

A sinceridade dele me irritou muito.



Eu fiquei em silêncio. Ele então se justificou:
– Olha, Léo, desculpe... Eu não vou poder te dar atenção agora, estou ouvindo seu namorado me gritar lá do campo, meu treino já começou.



 Eu me mantive calada.
– Léo não faz assim... – Ele pediu.
– Você me magoou.



Eu não disse mais nada e desliguei o telefone. Tatá olhava pra mim esperando algum comentário. No fundo, eu não estava magoada, só aborrecida. Não gostava quando Pedro não me dava a atenção que eu queria.



– E então? – A curiosidade venceu Tatá. – O quê que ele falou pra você desligar o telefone assim?
– Vou colocar minhas pantufas e voltar pra cama. Não tô mais com vontade de ir pra aula.



Virei em direção ao meu quarto. Tatá veio atrás.
– Ah não, Léo! Não arruma desculpa, não... Vamos! Hoje tem aula de sociologia... – A intenção dele era me deixar animada com a visão do primo de Nicole.



Eu sou fiel em minhas relações. Acredito que David também seja, apesar de vê-lo por aí dispensando alguma atenção para as Maria-Chuteiras. Entendo que se derretam por ele, de certa forma isso massageia meu ego. Ele é belíssimo mesmo.



Por outro lado, Nicole já tinha me falado que Yuri era casado, eu mesma vi a aliança em seu dedo. E apesar d’eu ter brincado que não era ciumenta, dar em cima de homens casados não é a idéia que tenho de diversão.



Mas realmente não podia deixar de achar engraçado aquele bando de calouras babando ao ver o professor passar, ou comentando qualquer estupidez durante a aula só para chamar sua atenção. É, até que valeria a pena...



– Ok, Tatá, já me convenceu. – Disse saltitando em direção ao meu quarto para me arrumar, já um tanto mais interessada.


 

Não reencontrei a cena de segunda feira no corredor de acesso às salas. Na verdade não havia quase ninguém por ali.
– Ué... Que estranho... – Observou Tadeu.



Caminhamos juntos até a porta e vimos o aviso no quadro negro. Não haveria aula de sociologia hoje, o professor marcaria posteriormente uma aula de reposição.
– Como é que o cara falta na sua segunda aula! É uma bagunça! – Reclamei revoltada. – Por isso que nem me dou ao trabalho de vir! Tá vendo, Tatá, saí de casa a toa!



– Cruzes, Léo! Pode ter acontecido alguma coisa... Ele parece ser tão engajado... Não faz o tipo que falta por não estar “com saco de dar aula”... Além do mais, temos aula de laboratório depois dessa... Já podemos ficar por aqui...
– Odeio aula de laboratório, você sabe...



– Sei, mas sei também que nesse ritmo você está caminhando para uma bela de uma reprovação... Vem, eu te pago um sorvete...



Tatá estava falando sem parar mas eu não estava prestando atenção. Estava preocupada com a observação que ele fizera, antes de sentarmos numa das mesinhas do pátio, para saborear aquelas delícias geladas.



– Heim, Léo?! – Ele perguntou enfático. Provavelmente estava repetindo pela quarta ou quinta vez, eu não tinha escutado.
– O que acha que pode ter acontecido com ele? – Eu argui sem responder.



– Ele quem? – Tatá estava confuso.
– O professor Yuri. Acha que pode ter sido alguma coisa grave?



– Eu sei lá, Léo! Não estávamos falando disso... Eu perguntei se você não quer passar a tarde lá em casa, já que tá sozinha... Você pode até dormir, se quiser...

Eu fiz uma careta. Apesar do seu convite sincero, ele sabia que eu não dormiria lá.



Tatá dividia uma casa de 2 quartos com a Augusta e a Geórgia. Augusta já era motivo mais que suficiente para eu não querer dormir lá.
– Você dorme comigo, no meu quarto... Não vai precisar ouvir o ronco da Guta, vai...



– Eu não! Depois eu te agarro no meio da madrugada... Eu tô carente sem o David, você sabe... – Eu brinquei e ele riu.
– Pelo menos eu perderia logo essa minha virgindade ridícula...



Foi a minha vez de rir.
– Pára de se preocupar com isso... Tudo tem seu tempo.

Tatá era sempre uma companhia divertida.



Estávamos ali já há algum tempo quando Augusta e Geórgia apareceram.
– Onde estavam, que não vimos vocês quando chegamos? – Tatá perguntou.
– A gente chegou cedo e descobriu que não ia ter aula de sociologia.
– Infelizmente... – Augusta completou suspirando.



– Aí resolvemos pegar uma piscina rápida antes de voltar pro lab. – Continuou Geórgia.

Pelo menos elas ganharam alguma cor, ao invés de quilos, ingerindo gordura trans, pensei.



Quando já estávamos no laboratório eu pude me lembrar de mais um motivo para abominar aquela matéria. O uniforme que nos obrigavam a usar era simplesmente pavoroso. Deviam mandar prender quem desenhou um modelo destes.



– Léo, tá vendo aquela manchinha no canto esquerdo superior do microscópio? – Tadeu perguntou.
– Tô, o quê é que tem?



– Vai lá e reclama com ela, porque até agora foi só dela que você ainda não reclamou! – Ele respondeu impaciente.

Augusta riu, e eu não gostei, mas de fato, meu mau humor tinha atingindo as raias do absurdo.



Acabei aceitando o convite para passar a tarde com eles. Eu estava abandonada e não tinha nada pra fazer. Nem posso me queixar da companhia de Geórgia, e Tadeu é sempre tão engraçado... Mas aturar a Augusta é muito complicado.



Numa das muitas vezes que ela falou alguma asneira sem tamanho, eu pedi licença e fui até o banheiro. Ainda estava cismada com a possibilidade de algo ter acontecido a Yuri para ele ter faltado. Mas do que eu estava falando? Se fosse algo grave teriam comunicado a gente... Ou não?



Bati a porta e passei a mão no iphone para ligar para Nicole. Nem pensei na desculpa idiota que deveria inventar para saber de seu primo.
– Oi, Léo! Ia te ligar agora! – Minha amiga exclamou ao atender.



– Transmissão de pensamento... – Respondi... – Fiquei curiosa...
Nicole riu:
– Digo o mesmo, amiga, porque me ligou?



Aquilo era patético! Primeiro, porque dificilmente alguma situação me deixava em saia justa, segundo, porque nunca precisei pisar em ovos em Nicole.
– Ah... É que... – O problema não estava em formular a pergunta, estava em justificar o motivo dela. – Está tudo bem com o Yuri? Ele não foi dar aula hoje...



O silêncio que se seguiu foi perturbador, apesar de breve. E então ela respondeu:
– Ariel teve uma crise de asma... Ele precisou levá-la ao hospital.
– Ah! E ela? A esposa dele... Está bem?



Ouvi a risada metálica de Nicole no meu telefone.
– Ariel está bem, sim... Mas não é a esposa dele! Ariel é sua filha, minha priminha... Tem apenas dois aninhos...
– Hum... Ele tem uma filhinha... Isso você não me contou.



– Tem, Léo, ela é linda! Você precisa conhecer! – Eu não tinha dúvidas que fosse, mas eu não levava jeito com crianças, na verdade, elas fugiam de mim. Às vezes aos berros.
– Ah... Não acho uma boa idéia... Eu sou o que se pode chamar de... Espanta neném!



Nicole agora estava gargalhando do outro lado da linha. Eu não deveria sentir-me tão incomodada com aquilo.
– Sua vez! – Eu interrompi seu divertimento. – Por que ia me ligar?



– Pensei de você vir aqui pra casa... Imagino que esteja tão entediada quanto eu...

Era uma ótima idéia. Mil vezes melhor que ficar sozinha, um milhão de vezes melhor que dormir na casa de Augusta.



Não precisei pensar duas vezes para responder:
– Nick, você não imagina o quanto vai me fazer bem!



3 comentários:

  1. Mamaaaaaaae... eu tinha dito que ia deixar pra acompanhar aqui no Blog... mas, a curiosidade, ou melhor dizendo, ansiedade não deixou então eu li lá na kachu mesmo, umas 5 atuh's.... que ainda faltavam... ¬¬
    Aquilo lá demora que é o bicho pra carregar... quando eu venho ver as fotos eu ja tenho lido a pagina... aushaiushaiuhsiuahs! Aqui não... mil vezes melhor... To aproveitando pra reler *_*

    Bjos Paulinha!

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  2. Pah...
    É minha segunda tentativa...
    Achei hilário este capítulo. Toda a ceninha da Léo e tudo mais chega a ser engraçado, sem contar a presença do Tatá e a história de espanta neném.
    Só mesmo o gelo do Pedro que não foi engraçado... :{
    AMO DEMAIS!
    bjosmil *.*

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  3. Miss, filhota!!! Obrigada! A Kachu às vezes é de matar mesmo! >.< Fico feliz que esteja relendo! *-* Obrigada, queridona! S2

    *~*~*~*~*~*~*~*~*

    Mita! Esse blogger tá dando nos nervos! Melsenhor! O Capítulo foi bem funny mesmo XD... Pelo menos hj sabemos onde esse gelo levou... *-*

    Brigadim, amore!

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