VII – Eduardo

Eu não gosto muito quando David me chama pra dormir na casa dele. Prefiro quando ele dorme na minha. O que me incomoda não é o fato de a casa respirar futebol. E sim um de seus “roommates”. Eduardo Chao, ou Doda, como seus colegas o chamam, é uma das pessoas mais cretinas que eu já conheci.

É um verdadeiro canalha no tratamento dispensado às garotas. Mas provavelmente um excelente amigo, porque David o tem como irmão, apesar do pouco tempo que se conhecem.

Aceitei o convite por conta da insistência do meu namorado, ele estava com preguiça de sair, mas queria dormir comigo aquela noite, pois viajaria com o time para dois jogos naquela semana, em Universidades do interior. Isso por si só já me deixara de mau humor, afinal eu também ficaria sem Pedro por uma semana.

Respirei fundo e bati a porta do carro. Como possuía a chave – e isso tinha o aval tanto de Eduardo quanto de Neto, seu outro “roommate” –, entrei direto. Não havia ninguém no primeiro andar e eu agradeci. Provavelmente Neto devia ter ido dormir na casa de Nicole.

O quarto de David ficava no sótão. Era uma suíte privilegiada, o maior quarto da casa. Em compensação eu seria obrigada a passar pelo segundo andar, onde ficavam os quartos dos outros dois.

Tentei ser o mais silenciosa possível ao subir as escadas. Isso era uma missão quase impossível por conta do ranger da madeira a cada degrau que se pisava.
Quando virei para subir a segunda escada, percebi que Eduardo me fitava encostado à porta de seu quarto.

– Boa noite, loira... Tudo bem?

O olhar dele me enojava. Entregava que ele já vira o que havia por baixo da minha roupa, e o que isso era capaz de fazer. Não que ele tivesse experimentado. Nunca.

Não tenho pudores entre quatro paredes. Eu me permito. Acontece que David detesta se sentir limitado pelas mesmas, e nós dois gostamos um tanto de nos “arriscar”. Numa de nossas brincadeiras em cima na mesa de sinuca, fomos flagrados por Eduardo que havia voltado mais cedo que o previsto.

Foi muito constrangedor, mas seria apenas isso se fosse com qualquer outro amigo de David, menos Eduardo. Virou motivo mais que suficiente para ele achar que dali em diante, poderia me tratar como uma vadia, e tenho quase certeza que a partir daquele dia passou a dar uma de “voyeur” pela casa.

Ignorei sua falsa cortesia:
– David está lá em cima?
– No banho, mas... Você nem vai me dar um oi decente, gostosa?

Minha intenção era continuar ignorando-o e subir as escadas. Mas Eduardo foi mais rápido e segurou firme em minha cintura na intenção de me dar um agarrão.
– Pára de cena, loira linda... Vai! Eu sei que você gosta da coisa... E eu tô louco pra experimentar o mesmo tratamento que vi você dando ao David... Quando vou ganhar, heim, heim?

Eu o empurrei.
– Não toque em mim, seu nojento! Não toque em mim! Já me basta ser obrigada a te encontrar de vez em quando...

Ele se recompôs e voltou a investir:
– Olha, que bonitinho, ela é violenta... Não faz assim que eu gamo, meu bem! Eu posso te dar uns tapas também, se for pra ouvir você sentir prazer...
– Eu não sei como o David não enxerga o calhorda asqueroso que você é!

– Ué, loira... Conta pra ele... Qual é o problema? Talvez ele até saiba, mas conheça a vagabunda que ele pega também...
– Você é tão sórdido, que eu me pergunto que tipo de mulher anda com você...

– Tenho certeza de que você iria adorar! Meu quarto está às suas ordens!

Ele já estava falando sozinho, e eu subindo para o refúgio do sótão.

Eu entrei sem bater e encontrei meu namorado nu, saído do banho. Apesar de já conhecer cada centímetro de seu corpo, era sempre uma visão de tirar o fôlego. Todo o meu mau humor sumiu. 

– Oi, loira! Você demorou tanto... Já ia te ligar. – Disse me abraçando com o carinho que sempre me dispensou.

O aroma de erva-doce de seu sabonete, misturado ao cheiro natural do seu corpo, invadiram meu olfato, me deixando desejosa de sua boca.
– Mas já estou aqui, esperando um beijo seu. 

Ele foi urgente em atender meu pedido, tomando meu rosto em suas mãos com cuidado e roçando meus lábios, bem devagar.

Em seguida eu já estava pendurada em seu pescoço, procurando sua língua com a minha, tentando apertá-lo a ponto de partilharmos o mesmo espaço.

– Calma, gata, assim você me deixa sem ar... O que houve? Você está tensa...
– É só... Que você me deixa louca, David... Olha como você me recepciona...

Não era uma completa mentira. David me deixava louca. Mas minha tensão tinha outros motivos.

– Venha, vou te fazer relaxar num minuto... – Disse, ao me pegar no colo.

Eu me deixei ser levada até sua cama, onde ele me despiu com a agilidade de sempre, e mais uma vez lançou mão de sua criatividade para me surpreender enquanto nos entregávamos ardentemente ao prazer.