quinta-feira, 7 de outubro de 2010

IX – Dr. Olívio


Nicole separou um vinho de sua adega para acompanhar nossa conversa. Já tínhamos falado sobre os meninos, sobre futebol, viagem, jóias e roupas, quando ela lembrou:
– Porque me perguntou sobre o Yuri? Você afinal já o conheceu?




Já mencionei que poucas coisas nessa vida faziam com que eu me sentisse constrangida. Mas percebi, de repente, que não sabia como responder:
– Conheci... Anteontem tivemos nossa primeira aula... – Disse, torcendo para Nicole não notar que eu havia ignorado a primeira pergunta.




– E aí, como foi?
– Ele me reconheceu... O que você falou de mim pra ele, heim?




– Eu?! Eu só disse que ele seria professor da minha melhor amiga... E descrevi você fisicamente, o que nem era necessário, porque ele descobriria fazendo a chamada.
– Só? – Duvidei. – Não disse mais nadinha sobre mim?




– Só... Por quê? Você queria que eu dissesse mais alguma coisa?

A pergunta era provocativa e capciosa, e embora eu soubesse que ela estava escondendo o jogo, naquele momento, resolvi não levar aquilo adiante.




Bebemos vinho, jogamos conversa fora e o melhor... Rimos muito. Eu raramente me sentia tão alegre quanto quando estava com Nicole.




Nós já estávamos ajeitando a cama para dormir, tarde da noite, quando meu telefone tocou. Era o Dr. Olívio.
– Ah, droga! – Praguejei antes de atender. Pela hora, eu sabia que era alguma reclamação.




– Oi, pai!
– Leandra, onde você está?




– Pai! Você tá careca de saber que odeio esse nome horroroso que vocês me deram!
– Onde é que você está? – Ele repetiu a pergunta, ignorando meu comentário.




– Na casa da Nick, pai... O Pedro viajou com o time de futebol e hoje vim dormir aqui, pra não ficar sozinha.
– Filha, quando for assim avisa... Eu liguei pra sua casa e ninguém atendeu!




– Pai, é para isso que temos celulares... Agora que você sabe que estou bem, eu posso dormir?
– Eu só fiquei preocupado...




– Pai... Eu te amo... Mas agora eu moro sozinha... Quer dizer, nem tanto, mas enfim... Você não pode mais cuidar de cada passo meu... Tá tudo bem... Pedro está cuidando de mim...
– Não hoje!




– Só porque ele precisou viajar! Eu tô com a Nicole, tá tudo bem... Que preocupação excessiva!
– Desculpe filha... É que a gente vê tanta coisa horrível por aí e...




– O que foi desta vez?

Meu pai era um sujeito facilmente impressionável. Com esta característica, é de se admirar que ele seja um renomado e respeitado cirurgião plástico. E exatamente por conta de sua profissão ele já se deparou com muita coisa.




Apesar da maioria de suas pacientes serem coroas ricas e divorciadas querendo aparentar trinta anos a menos, volta e meia papai operava casos de deformações decorrentes de algum agente externo. Acidentes, violência física, estes sempre o deixavam abalado.




 – Ah... Uma menina... Tão novinha e tão bonita... Com o rosto cortado a canivete. Disseram que foi o namorado... Filha, prometa que nunca vai se meter numa fria destas...
– Pai, você conhece o David...




 – É claro que não estou falando do David, desculpe! Eu só fiquei... Triste...

Encerrei a conversa prometendo o que ele queria, mas vamos combinar: Como podemos saber, lá no fundo, do que as pessoas são capazes? Por amor, por ódio, ou por ciúmes?




– Porque, afinal, você ficou preocupada? – Nicole perguntou enquanto eu me ajeitava ao seu lado.
Eu tentei uma desculpa esfarrapada:
– Ah... A culpa foi do Tatá... Eu pensei ser apenas uma falta... Todo mundo falta... Aí ele veio com aquela afetação, dizendo que podia ter acontecido alguma coisa... E bom... Ele é seu primo, eu me preocupo com você!




– Ah, comigo?! Sei...
– É... Com você, ué! Eu nem conheci ele direito.




– Ele é lindo não é? Um pedaço de mau caminho?
– Você precisa ver ele na faculdade! – Eu sorri ao lembrar. – Onde ele está, está um séquito de alunas cercando... Chega a ser ridículo... Elas só faltam babar...




– Só elas?
– O que é, heim, Nick? Você sabe o quanto gosto do David, e mesmo que não gostasse, não sou chegada em homens casados... Eles cheiram à mulher e armadilha.




– Desculpa, você está certa...
– Porque você está tão entusiasmada... Agora me diga...




– Ah, amiga... É que ele é tão boa gente, e tão bom no que faz! Achei que ele podia te dar uma orientação, sabe? De repente te mostrar outras coisas, te motivar na faculdade... Se você simpatizasse com ele seria mais fácil uma aproximação...
– Eu não acredito que você fez isso, Nicole! – Exclamei ressentida.




– Quem disse que eu não estou motivada? Que eu não gosto do que eu faço? Quem te deu o direito de armar situações pelas minhas costas? – Eu a questionei.
– Ah, pelo amor de Deus, Léo... Você falta mais do que vai... Curte mais desfilar pelo Campus do que frequentar a biblioteca. Você está fazendo Medicina! Medicina, Léo!




– Por acaso eu me meto no seu curso e na sua vida acadêmica?!
– Não, porque você não precisa... Mas se me visse jogando meu tempo fora, com certeza interviria! Não?




A pergunta me pegou de surpresa. Não que eu não desejasse sempre o melhor para Nicole. Mas me questionei se meus conceitos sobre o que é ou não é melhor para alguém eram corretos.
– Ah, Nick! Você é “caxias” demais!



4 comentários:

  1. Entendo a preocupação do Dr. Olívio... Mas preocupação demais acaba atraindo as coisas... Então é melhor se desligar disso e procurar pensar em coisas mais positivas.
    A Nick não é nada fácil, hein?
    Fica atiçando a amiga para saber das coisas... rsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Amo muito!
    bjosmil *.*

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  2. Também acho, Mita =/ O melhor é sempre pensar positivo... Nick não é fácil mesmo... Até que Léo tem muita paciência, viu! Huashaushaush!

    Brigaduuuuuuuuuuuuuuuu!

    bjks

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  3. Terminei de ler o blog ontem, e AMEI! Vou passar a acompanhar agora. ;)

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