sábado, 25 de setembro de 2010

III - Pedro


Sempre tive o sono leve. Não sei que horas eram, mas não havia clareado quando senti Nicole se mexendo na cama, levantando e saindo do quarto. Esperei que ela fosse retornar em seguida, que tivesse ido ao banheiro ou beber água. Mas ela não voltou.




Fiquei curiosa e levantei. Ouvi um murmurinho, então me esgueirei pelos cantos em silêncio, até encontrar Nicole e Pedro papeando na cozinha. Não resisti ao impulso de escutar aquela conversa, escondida atrás da parede.




– Sem sono? – Pedro perguntou.
– Nah... Só sede mesmo... Você?




– A Guta ronca... Um pouco...

Pude sentir o engasgo de Nicole com a risada que deu.
– Sério, Pedro... O que Augusta está fazendo no seu quarto?



– Companhia.
– Certo... Então tá... Tente ter um bom resto de noite...




Eu me preparei para voltar correndo pra cama, mas ouvi Pedro falar:
– O que quer que eu faça?




– Eu?! Eu não quero nada... Quem tem que querer é você! Sabe que amo a Léo, com todas as qualidades e defeitos que ela tem... – Eu sorri, mesmo não tivesse gostado de ouvir que tenho defeitos. – Mas nunca conheci alguém tão masoquista como você!




Eu tentava decifrar o que ela quis dizer com isso, enquanto a conversa prosseguia na cozinha.
– Não consigo ficar longe dela. Acredite, é mais torturante pra mim.
– Ah, Pedro!
 



– Não sinta pena de mim, ok? Eu estou bem! Não... Eu estou ótimo!
– Tudo por causa de uma brincadeira boba...





Puxei na minha memória. Um ano ou mais após o casamento de nossos pais, nós já éramos muito amigos. Eu, pré-adolescente nunca havia dado meu primeiro beijo. Estava ansiosa por isso, mas não queria fazer feio. Pedi a Pedro para me ensinar.




Apesar de uma resistência inicial, eu acabei o convencendo de que não era errado, afinal, não éramos irmãos de sangue, tão pouco nos conhecíamos desde o berço. E embora todas as minhas amigas tivessem me relatado que acharam super esquisito a primeira vez, eu achei deliciosa a experiência de beijar o Pedro. 




– Ah, Nicole... Não é isso. Acho que amo a Léo desde o dia em que a conheci.
– Vocês eram crianças! – Nicole parecia estar chocada.




– Eu tinha quase 15 anos... E a Léo... – Ele hesitou. Parecia procurar as palavras. – A Léo... Ah, Nick, vá! Você é amiga dela... Admita que Leandra já nasceu adulta.

Eu odeio o meu nome. Porque diabos alguém dá o nome de Leandra para um bebê?! Ninguém, nem mesmo meu pai, tem autorização para me chamar assim. 
 



Ouvi a gargalhada de Nicole na cozinha após a declaração de Pedro, antes de ela retrucar:
– Eu conheci a Léo um pouco antes de você, Pedro, na escola. E devo dizer que não simpatizei com ela de cara. Léo tinha uma pose altiva, me lembrava a parte que eu sempre detestei da minha família.



Eu já sabia da arrogância da parte nobre da família de Nicole. Ela mesma havia me contado. O que eu desconhecia veio a seguir:
– Mas quando fomos apresentadas, senti a cordialidade sincera de seu sorriso e seu olhar. Eu não sei te explicar porque, nem de que forma, mas percebi que ela gostou de mim.
– Nicole... Quem não gosta de você?




– Thanks, querido, mas você entendeu meu ponto... – E rapidamente mudou de assunto. – E a Pêpa?

Eu fiz uma careta. O que é que a Pêpa tem a ver com isso?




– O que é que a Pêpa tem a ver com isso? – Meu pensamento ecoou na voz de Pedro.
– Está na cara que ela gosta de você...





– Eu também gosto muito dela, Nick... Somos amigos, e daí?
– Deixa de ser irritante, Pedro, você sabe do que tô falando...




– Não posso dar a Pêpa o que ela quer...
– Como pode saber, se nunca tentou?

Que Pêpa amava Pedro, eu tinha quase certeza. Mas ele nunca tinha admitido pra mim.




– E nem vou, eu simplesmente sei que não sou capaz e a última coisa que quero no mundo é magoar a Pêpa... Ela é boa demais pra mim.

Eu não penso assim, mas... Pêpa é amiga dele, não minha.




– Nenhuma mulher é boa demais pra você, Pedro! Você é fantástico! Não se diminua...

Viu? Nicole concordava comigo. Não devo estar tão errada. Mas eu achava mesmo era que nenhuma mulher era boa o suficiente para ele.




– A conversa tá tomando um rumo que eu não to gostando, Nick... Vou dormir, tenho um amistoso amanhã... Aliás, você vem?
– Você sabe que não perco um jogo do meu goleiro ruivo preferido... 




– Poxa, e eu pensando que a zaga aqui tinha alguma chance... – Eu imaginei o sorriso de canto de boca de Pedro que acompanhou a frase.
– O que ia adiantar? Nunca vi uma zaga tão fechada assim...




Corri da forma mais silenciosa que pude de volta pra minha cama. O assunto estava encerrado.




– A quem você pensa que engana, Léo? Eu sei que estava fuxicando... – Nicole me desmascarou ao deitar do meu lado.
– Cara, você é insuportável! – Resmunguei.




2 comentários:

  1. Concordo com a Léo: a Nick é insuportavelmente perfeita e sabichona!
    Do que a Nick não sabe e sobre o que ela não tem nenhuma opinião bem formada? rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
    Pedro... Sem palavras!
    AMO, você sabe!!!

    bjosmil! *.*

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  2. Hehehe, verdade, Mita... Amigas assim são realmente complicadas...

    Pedroooooooooooo! S2

    Sei sim, amiga, obrigada sempre!

    ..: Bjks :..

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